sábado, 14 de março de 2009

MILHO DE PIPOCA


Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre
Assim acontece com a gente
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento , cujas causas ignoramos.
Há sempre o recursos do remédio: apagar o fogo
Sem fogo o sofrimento não diminui.
Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela,
Lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:
BUUUUUMMMMMMM!!!

E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente,
algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.

Texto extraído do livro de Rubem Alves , “O amor que acende a Lua

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